Vejo diariamente uma nova geração que chega ao mercado de
trabalho cada vez mais decidida a alcançar patamares elevados dentro de uma
organização empresarial, ou seja, almejam cargos do alto escalão, poder de
decisão e salários polpudos sem galgarem os degraus necessários para isso.
No fim, acabam por “trocar os pés pelas mãos” e mudam de
emprego com enorme frequência e facilidade, sempre alegando falta de motivação,
ausência de plano de carreira, ascensão, entre outros. E o pior, todos esses
sentimentos num prazo reduzidíssimo de tempo, alguns meses na empresa.
O que antes levava anos para um profissional alcançar, hoje
esses “recém chegados” desejam alcançar em poucos meses.
Há quem denomine-os como Geração Y, eu chamo de Geração
Ansiedade.
Mas onde está a origem desse comportamento?
Observo que há 3 pontos que contribuem para esse fenômeno:
- Pressão da sociedade por sucesso financeiro;
Nunca estivemos tão presos as nossas condições financeiras
quanto nos tempos atuais. Hoje as pessoas estão limitadas ao que possuem, ou seja, ao que podem fazer
(comprar) com o seu capital.
Incrivelmente há produtos segmentando pessoas.
E não me refiro as grifes como era antigamente, no tempo em que bastava vestir um terno Armani que a
pessoa era facilmente identificável como pertencente a uma determinada classe/grupo.
Hoje é o culto ao Starbucks, ao iPhone, ao Outback, etc. Um jovem
que não possui ou frequenta esses lugares é um excluído cultural.
Virais, memes e outras imediatices bombardeiam a internet de
hora em hora. Quem
não viu a última piadinha no Facebook ou o vídeo engraçado no Youtube está
perdendo tempo com relação aos demais.
Ser adolescente sem dinheiro nos dias de hoje não deve ser
nada fácil.
Reparou como a cada década isso cresce?
Reparou como a cada década isso cresce?
Nos tempos dos meus avós, não ter as coisas e ser digamos,
podre, era comum. Nos tempos dos meus pais, isso já mudou um pouco, mas ainda
não havia tanta segregação economico-social. Nos anos de 1980, minha geração,
isso começou a mudar e o “ter” começou a prevalecer sobre o “ser”.
No final dos anos de 1990, estávamos totalmente vendidos
às marcas e seus produtos tecnológicos.
Com a elevação desse consumismo, nessa curva exponencial, só
piorou ano a ano a partir daí. Hoje em dia, “ser” é quase irrelevante comparado ao “ter”. E só se consegue “ter” com
dinheiro e sucesso.
- Falta de conteúdos e estímulos ao empreendedorismo durante
a formação acadêmica;
Não sou contra os estudos, pelo contrário. Qualquer
atividade estudantil é estimulante, agregadora e nos faz crescer como cidadãos.
Mas eu jamais digeri a idéia do formato do ensino, seja ele
na fase fundamental, média ou superior.
Por exemplo: Nossa sociedade nos estimulada a sentir
necessidade de dominar outro idioma apenas quando já concluímos boa parte dos
nossos estudos, o que para mim está errado; A melhor fase para aprendermos
uma outra língua (comprovadamente) é quando somos crianças/adolescentes.
Além disso, o formato, o discurso, o cronograma e a
metodologia vem trazendo enormes prejuízos. Todas as escolas, faculdades e demais instituições de ensino vem
aplicando a carga correta de conteúdo, mas na “dose”, ritmo e alvo errados.
São raros os casos em que alguma pessoa sai realmente
"formado", ou seja, pronto para encarar a vida profissional como realmente ela é. Você no
seu segmento deve ter observado muitos casos assim, pessoas recém contratadas
“querendo mudar o mundo” da noite para o dia, criticando tudo e todos.
Não há estímulo ao empreendedorismo, ou seja, não se cria a
cultura de ganhar seu próprio dinheiro criando, inovando ou atuando em seu
próprio negócio. Sempre fomos "criados" para trabalharmos para os outros.
O discurso de incentivo a isso foi sempre o mesmo: “As melhores empresas para se trabalhar”, “Programa de
trainees”, “Banco de estágios”, "Caça Talentos" etc.
Trabalhar numa multinacional ou ser um funcionário público é o sonho de 9 entre 10 brasileiros.
Trabalhar numa multinacional ou ser um funcionário público é o sonho de 9 entre 10 brasileiros.
- Culto ao super-currículo e declínio aos valores da experiência
profissional e emocional.
Tanto faz quais foram as suas realizações profissionais,
pouco importa o seu controle emocional, sua liderança, seu espírito inovador e
proativo;O que realmente vale hoje em dia é o que você cursou e principalmente, onde cursou.
Qualquer empresa dessas “desejáveis” para se trabalhar
elegem seus candidatos através de um programa massante e desgastante de bateria
de entrevistas, dinâmicas, testes e muito mais. Porém, será unânime a decisão sempre
que surgir um cidadão formado pela FAAP (São Paulo) e outro candidato formado
na UNIP.
Um pós-graduado pela Harvard Business School e outro pela Faculdade
Anhanguera.
Idiomas, pós graduações, mestrados, doutorados, especializações
e um caminhão de cursos muitas vezes irrelevantes sempre prevalecerão sobre o conteúdo
humano.
Isso tudo explica a quantidade de babacas dentro de empresas
tentando encontrar outros babacas para substituir os babacas atuais por julgá-los
despreparados para a função.
Seleciona-se, elege-se, opta-se e promove-se pessoas pelo
que elas “tem” e não pelo que elas “são”.
Com toda essa pressão, qualquer jovem da [Geração Ansiedade]
está pressionado a se adequar a este formato culto-empresarial tão pré-formatado
e cruel.
Nota rápida: Reality shows como “O aprendiz” só colaboram
para esse formato, babacas avaliando babacas !